Discretamente,
Largou a mão do arado
E partiu.
Kyrie eleison.
[Texto publicado na folha aperiódica AAAcidental 04/99 Junho]
Discretamente,
Largou a mão do arado
E partiu.
Kyrie eleison.
Cada amigo
Dele lembra uma Palavra
Um sorriso de irmão.
Christe eleison. (*)
Por ele perpassou
Um fulgor de humanidade,
De partilha, de comunicação.
Kyrie eleison.
(*) Notas à margem
Em ressonância com o Kyrie da Grande Missa em Dó menor de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), cuja composição terá sido iniciada cerca de 1782, ano em que casou com Constança Weber; esta, soprano, terá cantado a solo na que foi a primeira audição da missa, em 26 de Outubro de 1783, na igreja do mosteiro de São Pedro, em Salzburgo.
Duzentos anos mais tarde, em 1982, coube a Barbara Hendricks, soprano, cantar a solo, designadamente o Christe eleison do Kyrie, em interpretação da Berliner Philarmoniker e da Wiener Singverein dirigidas por Herbert von Karajan (edição e notas descritivas do CD da Deutsche Grammophon).
Foi esta peça a lembrança que a AAAIST fez chegar ao Professor Manuel Abreu Faro por ocasião da sua jubilação no IST e que profundamente o comoveu; peça erudita que repetidamente ouvia, pelo amor que consagrava à música de Mozart e em particular a este troço de uma obra que, por fragmentada durante anos, levou Einstein a designá-la como um “nobre torso”, e terá dado a Manuel Abreu Faro a percepção duma centelha de um Além onde agora repousa, sem inquietação, certo do tom de acolhimento ao seu Christe eleison.
Por esta forma e sempre o recordamos em ser e estar, em discreta humanidade.
O Presidente da Direcção da AAAIST
António da Silva Teixeira