“sobretudo nunca esquecerei o prazer que ele manifestava em ensinar – no fundo, em lidar com a sua matéria-prima, os alunos.”
Meia dúzia de spots do Prof. Abreu Faro
Em 1951 conheci-o, quando eu era aluno e ele assistente de Medidas Eléctricas. Foi nos trabalhos do Laboratório que ele organizava, que me senti atraído para aquele tipo de trabalho, através do entusiasmo contagiante que demonstrava na sua elaboração, na verificação experimental dos resultados teóricos que nos ensinava e, sobretudo no rigor da discussão das medidas.
Em 1956 entrei como bolseiro, para o Centro de Electrónica da CEEN dependente do IAC. Fiquei contente. Ele era o meu Herói. Embora as instituições possam ter sofrido metamorfoses, e eu tenha em 1960 começado a dar aulas no IST em regime de acumulação, pode-se dizer que passei o resto da minha vida profissional, até me jubilar, no espaço que de certo modo o Prof. Faro abriu. Por triste coincidência eu jubilei-me em 17 de maio de 1999 e ele faleceu 5 dias depois.
Não vou falar na carreira do Prof. Faro nem no papel fundamental que teve no desenvolvimento da actividade científica em Portugal e que é por todos sobejamente conhecido. Outros, devidamente documentados, decerto nisso falarão. Quero antes referir outros aspectos, como por exemplo, o entusiasmo que punha nas suas aulas. Lembro-me das inúmeras vezes que nos contava, aos mais antigos, depois duma aula, referindo-se aos alunos – eles hoje gostaram daquilo! – claro que em regra a maioria apreciava, mas quem gostara mesmo daquilo tinha sido ele, Abreu Faro, que adorava comunicar o seu entusiasmo aos alunos!
Esse mesmo entusiasmo já estava presente nos tempos do velho Centro de Electrónica, quando trazia ideias novas que a sua intuição criativa gerava. Lembro-me com saudade do faiscador, engenhoca simples que imaginou para nos lançarmos nas aventuras dos nano-segundos, uma proeza para a época, 1960, com o meu colega Onofre Moreira e o meu saudoso amigo de infância João Figanier.
No meio século que por aí andei conheci muita gente com memória até dizer chega. Mas nunca calhou descobrir em mais ninguém a particular habilidade que o Prof. Faro tinha em reproduzir de memória uma carta ditada para mim na véspera sem a ter registado…
Uma característica que sempre lhe admirei foi a capacidade de antever a importância das coisas. Quando acidentalmente, através da revista técnica da Bruel, surgiu a hipótese de incluir uma câmara anecoica no projecto de construção do Complexo, o prof. Faro mandou avançar com a ideia, apesar de o próprio agente da Bruel considerar que o custo seria muito elevado. E o Complexo começou mesmo pela câmara anecoica! (figura)
Muitas outras facetas do Prof. Faro me ficaram na memória, como a sua capacidade de síntese, tanto na apreciação dum currículo como no seu predilecto estilo de escrita, que chegava a ser telegráfico. E sobretudo nunca esquecerei o prazer que ele manifestava em ensinar – no fundo, em lidar com a sua matéria-prima, os alunos.