Enquadramento

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O Prof. Abreu Faro foi uma personalidade marcante na segunda metade do sec. XX, tendo contribuído decisivamente para a criação de modernas bases para a ciência em Portugal. Várias foram as ocasiões em que o Instituto Superior Técnico (IST), onde leccionou até à sua jubilação em 1993, prestou homenagem a este grande Professor – nomeadamente por ocasião da sua última lição e da sua jubilação que juntaram à sua volta muitos colegas e alumni que jamais esqueceram o seu entusiasmo contagiante e a sua insaciável curiosidade científica.

Por ocasião do que seria o seu nonagésimo aniversário, e ao longo de um ano, prestar-lhe-emos de novo homenagem não só como Professor, mas como verdadeiro motor da Ciência em Portugal. Este portal pretende informar sobre as iniciativas tomadas no âmbito das comemorações promovidas pelo IST, dar uma breve perspectiva sobre a sua vida e obra, e reunir testemunhos de amigos, colaboradores e alunos.

Uma vida a criar bases para a ciência

Manuel José Castro Petrony de Abreu Faro nasceu em Lisboa em 26 de Novembro de 1923 e faleceu em 22 de Maio de 1999, um dia antes do 88º aniversário da fundação da Escola que marcou indelevelmente.

Recordado por um sem número de alunos como um dos professores mais extraordinários do Técnico, capaz de lhes passar todo o entusiasmo que sentia pelo ensino das telecomunicações,  o papel do Prof. Abreu Faro foi muito além das suas funções de docente, sendo indubitavelmente considerado como um dos motores de mudança do panorama científico nacional.

Licenciado em Engenharia Electrotécnica pelo IST em 1948, foi em 1956 o primeiro catedrático da Escola na área de telecomunicações. O seu percurso como líder de investigação científica, no entanto, já tinha tido três anos antes um marco muito relevante – a criação em Novembro de 1953 do Centro de Estudos de Electrónica, ao qual presidiu.

Este Centro foi um dos 15 centros que o Instituto para a Alta Cultura criou a partir de 1940,  juntando-se no Técnico ao de Química (presidido pelo Prof. Herculano de Carvalho), e ao de Mineralogia e Geologia (de que era director o Prof. Décio Tadeu).

Apesar do Técnico ser já considerado na época como uma escola de excelência no ensino da Matemática, da Física, da Química, da Mineralogia e da Geologia, a investigação científica era muito incipiente, tanto no Técnico como em todo o país, onde a criação dos 15 centros não colmatava  as falhas sentidas. Nas palavras do próprio Prof. Abreu Faro, “alguns esperançosos embriões foram desfeitos por motivos de natureza política, o que além de grave, foi triste”.

Para “propulsionar a investigação científica”,  o  Instituto para a Alta Cultura, daí em diante Instituto de Alta Cultura, IAC, foi reorganizado em Março de 1952, tornando-se autónomo da Junta Nacional de Educação criada em 1928 pelo Eng.º Duarte Pacheco, ministro da Instrução e director do Técnico.

A reforma do plano de estudos de Engenharia, estabelecida por diploma de 1955, concedera ao IST a capacidade de conferir o grau de doutor. No entanto, foi apenas em 1962 que se realizaram as primeiras provas de doutoramento na Alameda, o doutoramento em Engenharia Electrotécnica de Manuel Alves Marques, recentemente falecido, sob orientação de António da Silveira.

É no contexto destes primeiros passos para a criação de bases para a ciência em Portugal que o papel do Prof. Abreu Faro assume, na década de 60, uma importância crescente.

Em 1963, foi nomeado vogal representante do Ministro da Educação Nacional na comissão interministerial do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho para a preparação do Plano Intercalar de Fomento, referente ao biénio 1965-66, presidindo ao grupo de trabalho “Ensino Superior e Investigação”, cargo que manteve até à elaboração do III Plano de Fomento, a aplicar ao quinquénio 1967-73.

Em 1964, foi nomeado pelo Ministro da Educação Nacional para uma comissão “ad-hoc” encarregada de um estudo sobre o ensino superior em Portugal. Nesse mesmo ano, foi convidado para a vice-presidência do IAC, a que presidia outro professor catedrático do IST, o físico António da Silveira. A partir desse ano, os Planos de Fomento passaram a consignar verbas relevantes para a Investigação e o Ensino.

Em 1966, o Prof. Herculano de Carvalho, nomeado Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, indigitou o Prof. Abreu Faro para a presidência da Comissão de Estudos de Energia Nuclear, CEEN. Um ano depois, em 1967, o Prof. Abreu Faro assumiu cumulativamente as funções de presidência do IAC e do CEEN. Em Julho desse ano, foi criada a Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), na dependência da Presidência do Conselho. O Prof. Abreu Faro foi nomeado seu vice-presidente.

O III Plano de Fomento, no qual colaborou activamente, consagrava no capítulo dedicado à “Educação e Investigação ligada ao Ensino” a ampliação das instalações da CEEN no Instituto Superior Técnico. A construção dessa “ampliação”, o Complexo Interdisciplinar, contíguo ao Laboratório Calouste Gulbenkian de Espectrometria de Massa e Física Molecular, com uma área de 8 000 m2 graças à visão e persistência do Prof. Abreu Faro, coincidiu com sua a passagem pela Subsecretaria de Estado da Administração Escolar (1971-1972). Inaugurado em 1973, o Complexo teve como primeiro presidente aquele que de facto é o seu fundador.

O culminar desta carreira brilhante como motor da investigação científica em Portugal foi como Presidente da Academia das Ciências (1997-1998).