Testemunho de Armando Larcher Brinca

“O Professor Abreu Faro contribuiu decisivamente para o progresso da ciência em Portugal, procurando criar as condições a que, em tempo próprio, não teve acesso.”

São dois os motivos que explicam a satisfação sentida por contribuir para a homenagem ao Professor Abreu Faro: a inquestionável justiça da comemoração e a determinante influência que teve na minha vida académica.

A relevância da obra do Professor Abreu Faro na ciência em Portugal não deve ser procurada na sua produção científica recorrendo aos critérios aferidores tradicionais. Seria desadequado avaliar esta actividade em alguém que iniciou a carreira docente como 2º Assistente no ano de 1947 quando, no mesmo ano, numa comunicação em 20 de Fevereiro à Classe de Ciências da Academia das Ciências de Lisboa intitulada “A investigação científica ao serviço da Nação”, António de Sousa da Câmara conclui estarmos pior do que qualquer outro estado europeu, e opina encontrar-nos em boa posição “para principiar”.

Foi como fomentador e facilitador de bases sólidas para o surgimento da pesquisa científica que o Professor Abreu Faro contribuiu decisivamente para o progresso da ciência em Portugal, procurando criar as condições a que, em tempo próprio, não teve acesso. Desenvolveu esta actividade no desempenho de vários cargos públicos em paralelo com o exercício da docência nesta Escola, apenas pontualmente interrompida quando a posição ocupada a isso obrigava. Participou na Comissão de Estudos de Energia Nuclear (CEEN, criada em 1952 pelo Pofessor Leite Pinto), presidiu ao grupo de trabalho “Investigação e Ensino” no âmbito dos preparativos do Plano de Investimento para 1965-67, foi presidente do Instituto de Alta Cultura de 1967 a 1970 onde intensificou e alargou o plano de bolsas para fora do país, abriu concursos para projectos de investigação, propôs uma política de investigação científica na revisão do III Plano de Fomento e o alargamento das instalações da CEEN no Instituto Superior Técnico, originando a edificação do Complexo (Interdisciplinar).

A actividade docente do Professor Abreu Faro foi pioneira na atitude e no conteúdo. Antecipou em quase vinte cinco anos, e auto-aplicou, o conceito genuíno da dedicação exclusiva à Universidade, para grande benefício dos seus alunos que se confrontavam com um professor de disponibilidade permanente, entusiasmo contagiante, e curiosidade científica insaciável; os elementos de estudo, sebentas e livros por ele meticulosamente elaborados, tornavam-se referências indispensáveis.

Apesar do ambiente cientificamente isolado, no ano de 1949 (obtenção do grau de Engenheiro Diplomado) estudou fenomenologia não linear em circuitos oscilantes com bobina de núcleo de ferro saturado com a generalidade suficiente para revisitar o tema muito mais tarde, numa perspectiva de caos e ordem em sistemas dinâmicos. Em 1956, no concurso para Professor Catedrático, apresentou um trabalho sobre a comunicação por impulsos, prenunciando a omnipresente era digital.

No que toca à sua influência na minha vida académica, será suficiente referir que tive o privilégio de ser seu aluno, que fui por ele introduzido à área dos meus estudos de pós-graduação (plasmas espaciais) e à instituição da sua realização (Universidade de Stanford) e, aquando da sua jubilação, lhe sucedi na regência das disciplinas que então tinha a seu cargo (Propagação e Radiação de Ondas Electromagnéticas I e II).

abrinca