“Que maravilha de aulas e que simplicidade a explicar – só de quem sabe muito – que sabedoria, simpatia e afabilidade como pessoa, que entusiasmo contagiante, que desejo que os seus alunos voassem.”
Abreu Faro, o meu Avô científico
Abreu Faro foi meu Professor de Propagação e Radiação I e II nos idos de 1976 ou 1977. Que maravilha de aulas e que simplicidade a explicar – só de quem sabe muito – que sabedoria, simpatia e afabilidade como pessoa, que entusiasmo contagiante, que desejo que os seus alunos voassem.
O Prof. Faro seguiu, incentivou e acarinhou os meus primeiros passos na investigação, primeiro no Mestrado e depois no Doutoramento. Sempre que nos cruzávamos no Complexo queria saber como iam os meus trabalhos e tinha uma palavra de estímulo e de incentivo para eu prosseguir. Eu era orientada, e portanto “filha científica”, do Prof. Fonseca de Moura, pessoa que ele muito estimava. É por este conjunto de circunstâncias, que ainda hoje, quando me refiro ao Prof. Abreu Faro, digo, e sinto, que foi e é o meu Avô científico. Que me perdoem os seus netos.
Já no início dos anos noventa, lembro-me do entusiasmo com que me falava de um livro que estava a escrever, A Peregrinação de Um Sinal, que foi publicado pela Gradiva em 1995. O melhor testemunho que, nesta data, posso dar do Prof. Faro, e que dele dá a verdadeira dimensão de pedagogo, cientista, e humanista, é transcrever o que ele escreveu na parte final da introdução do seu livro. São palavras suas:
“….. Sumariamente, descrevemos, demos conta do que este livro trata.
Como é natural, demos-lhe um título: A Peregrinação de Um Sinal. Comunicar é de sempre. Como se comunica e até onde se comunica, depende da época, dos meios de que essa época dispõe.
É essencial que se aceite que a concepção e a tecnologia estão em permanente intermotivação: se a concepção estimula a tecnologia, não é menos verdade que a tecnologia inspira novas concepções.
Acreditamos no carácter universal da poesia e do teatro. Acreditamos que no “disco compacto” que o homem concebeu, nas ligações via satélite que conseguiu, há tantas armadilhas, intriga e valor que supera e triunfa como num drama de Shakespeare, crenças e impedimentos, como afloram na cena do Adamastor de Camões, repetido por Fernando Pessoa.
Por isso, sem escrever, nas minhas aulas, onde sabia possível, nunca enjeitei a possibilidade de humanizar, comparar, trazer a matemática e a física para o drama e a poesia do homem.
Noutros livros, isso ficou filtrado pelo preconceito e respeito por aquilo a que chamamos rigor.
Depois de escrever livros, muitas páginas, fortemente matematizadas, perdi o receio de não ser assim.
Digamos que este livro aproveita e capta espaços não transcritos das minhas aulas. Espaços em que me agrada mover-me.
Usámos pouca matemática. Alguma, no entanto, foi necessária.
A mensagem que se envia, a intenção primeira, é humanizar, trazer para a nossa sensibilidade e sentimentos do dia a dia coisas que é quase pecado, para alguns, querer entender.
Não digamos entender, digamos sentir, que é bem mais do que a inteligência que nos leva lá.
No entanto, procurámos ser rigorosos.
Perfeitos, nem pensar, seria contra a essência do humanismo em que nos queremos. Não tão humildemente, no direito e esperança de poder sonhar”
M. Abreu Faro, em A Peregrinação de Um Sinal, Gradiva, 1995.